terça-feira, 3 de novembro de 2009

SINTOMAS ASSOCIADOS Á MENOPAUSA

Donizetti Ramos dos Santos é médico cirurgião e trabalha no Hospital Sírio-Libanês de São Paulo.


Sintomas associados à menopausa

Drauzio –A passagem para a menopausa pode ser muito desagradável. Que sintomatologia está associada à menopausa?
Donizetti – Só quem trabalha com mulheres no climatério e na menopausa sabe os transtornos que eles causam. Em primeiro lugar, elas deixam de sentir graça na vida porque a maioria tem uma importante diminuição de libido. Por falta do estrogênio que mantém o tônus dos tecidos, a pele fica mais ressecada, mais fina e sem elasticidade, o que facilita o aparecimento de rugas, e as mamas caem. As ondas de calor podem ser insuportáveis. A mulher acorda durante a noite, quer abrir a janela, ligar o ventilador e o marido briga com ela porque não consegue dormir. Além disso, a mucosa vaginal e a do trato urinário inferior ressecam e ela sente desconforto na relação sexual, dor quando urina e tem infecções urinárias de repetição.

Drauzio – E em relação às mudanças de humor?
Donizetti – Essas pacientes apresentam quadros de depressão constante em maior ou menor grau. Além disso, as alterações físicas provocadas pelos fogachos, a vermelhidão que se instala do busto para cima, deixa a mulher insegura e de humor instável. Essa série de distúrbios faz com que algumas optem pela terapia de reposição hormonal com estrogênio e progesterona mesmo sabendo que o risco de câncer de mama vai subir de 10% para 13%.

Drauzio – Nem todas as mulheres manifestam obrigatoriamente esses sintomas extremos, não é?
Donizetti – Nem todas. Por isso, alguns colegas defendem que só devem receber reposição hormonal as mulheres que apresentam sintomas desagradáveis. O que se faz hoje é avaliar a qualidade de vida no climatério e na menopausa para decidir sobre a necessidade da TRH.

Drauzio – Que diferença existe entre climatério e menopausa?
Donizetti - O climatério é o período que começa um pouco antes e termina um pouco depois da menopausa, isto é, da última menstruação. Popularmente, o termo menopausa engloba os dois sentidos, o que de certa forma facilita o entendimento.

Drauzio – O que explica os sintomas mais pronunciados em algumas mulheres e mais brandos em outras?
Donizetti – Parece que o nível socioeconômico interfere bastante. Pacientes com menor poder socioeconômico e cultural suportam mais esses sintomas e se adaptam mais facilmente à nova situação. Mulheres de nível mais alto têm perspectivas diferentes de vida, queixam-se mais e buscam mais freqüentemente um modo de atenuar os incômodos do climatério.

Drauzio – Será que as mulheres de classe social menos favorecida suportam mais porque sua história de vida é, muitas vezes, mais sofrida? Não é que elas não tenham os sintomas, simplesmente se queixam menos.
Donizetti – Com certeza. Queixam-se menos e se adaptam melhor aos sintomas do climatério. É isso que se tem observado no mundo. Alguém já ouviu falar em reposição hormonal na África? Se há, a preocupação é menor do que na América Latina, Europa ou Estados Unidos.

Drauzio – Mulheres cujas mães tiveram menopausa tranqüila têm menos probabilidade de desenvolver sintomas mais sérios?
Donizetti – Não existe nenhum estudo que comprove essa hipótese. Parece que estão envolvidos no desenvolvimento dos sintomas a psique, o tipo físico (mulheres com menor massa corporal tendem a apresentar mais sintomas) e a produção de estrógenos periféricos.

REPOSIÇÃO HORMONAL


Reposição hormonal

Terapia de reposição hormonal (TRH), tratamento dado às mulheres que se encontram na menopausa, é um tema controverso.
Durante a fase reprodutiva, os ovários fabricam mensalmente estrógeno e progesterona, produção que vai diminuindo à medida que a mulher se aproxima da menopausa. Essa redução dos níveis de hormônios femininos provoca uma série de alterações físicas importantes: ondas de calor, dificuldade para controlar a temperatura do corpo, pele mais flácida, mucosas dos sistemas urinário e reprodutivo mais friáveis e secas, alterações de humor e quadros depressivos.
Do ponto de vista racional, o lógico seria tentar repor os hormônios que os ovários deixaram de produzir, como era feito num passado recente, através de pílulas, adesivos colocados na pele ou injeções. Há cinco anos, muitos médicos defendiam que toda a mulher, quando entra na menopausa, deveria fazer reposição hormonal.
Em abril de 2002, porém, foi publicado um estudo americano bastante completo que considerou 16.600 mulheres entre 50 e 79 anos das quais apenas uma parte recebeu a terapia de reposição hormonal. Os resultados foram contraditórios e surpreendentes. Por exemplo, acreditava-se que a reposição hormonal protegesse as mulheres de infartos do miocárdio e de derrames cerebrais e constatou-se que, ao contrário, aquelas que fizeram o tratamento tiveram mais infartos e AVC, assim como câncer de mama. Essas conclusões obrigaram a comunidade científica a rever a conduta em relação à terapia de reposição hormonal.